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Ressocialização por meio da arte: Espetáculo “Bizarrus” reúne centenas de pessoas

Apenados ressignificam a liberdade a partir do teatro como ferramenta de autotransformação.

É possível reabilitar pessoas com restrição de liberdade por meio da arte? Quem assistiu à peça teatral “Bizarrus” no auditório do Detran/AC saiu com a certeza de “sim”.

O espetáculo reuniu pessoas as mais diversas, incluindo magistrados(as), servidores(as), defensores(as) públicos(as), advogados(as), operadores do Direito, comunidade jurídica, acadêmicos(as).

Realizado na noite da última sexta-feira (29), o espetáculo é capitaneado pela Associação Cultural e de Desenvolvimento do Apenado e Egresso (Acuda), de Rondônia. O objetivo do programa é proporcionar o autoconhecimento transformador a integrantes do sistema socioeducativo, reduzindo os danos provocados aos egressos e, principalmente, à sociedade.

Como foi

A encenação foi possível graças ao patrocínio do Governo do Estado, por meio da Fundação Elias Mansour; e ao apoio da Escola do Poder Judiciário do Acre (Esjud).

“A ressocialização não é apenas uma utopia, mas uma realidade possível, que pode ser alcançada por meio da educação, da cultura e da arte. Este é um verdadeiro trabalho de prevenção à violência. Ao se permitir que os reeducandos expressem emoções, reflitam sobre seus erros, estamos ampliando suas potencialidades e oportunidades de novos caminhos no futuro”, declarou o desembargador Luís Camolez.

O diretor do Órgão de Ensino fez questão de chamar ao palco os profissionais que trabalham na Escola para homenageá-los com palavras de gratidão pelo esforço, desempenho e dedicação de cada um, sem os quais a atividade não seria possível.

“Bizarrus” traz uma abordagem metafórica do atual contexto, marcado pela escalada da violência e, também, de crise da identidade humana. A partir das histórias de vida dos(as) próprios(as) detentos(as) são identificados aspectos comuns que os(as) levaram aos tortuosos caminhos da criminalidade e ao sistema prisional, muitas vezes sem volta.

De acordo com o diretor da representação, Marcelo Felice, a montagem foi concebida com o propósito de ressignificar a liberdade, “usando a arte como ferramenta de autotransformação”.

Rivana Ricarte apontou as lições apreendidas com o espetáculo. “Impacta a vida de cada um dos apenados que, através da arte e das terapias relacionadas, passam a ter consciência da responsabilidade de cada um ante à situação, mas também impacta a vida de todos os espectadores da peça teatral, porque somos levados a refletir e a enxergar a figura do outro em sua inteireza, reconhecendo a sua humanidade”, disse.

A defensora pública também ressaltou que o enfrentamento da problemática tem de ser coletivo. “O dever de olhar o outro é de cada um de nós enquanto profissionais do Direito, mas também, e principalmente, de cada um de nós enquanto sociedade”, concluiu.

Coordenador (suplente) do Grupo de Monitoramento e Fiscalização do Sistema Prisional (GMF/TJ/AC), o juiz de Direito Robson Aleixo parabenizou o Governo e a Escola pela realização do evento, declarando que é preciso trabalhar não apenas na punição, mas sobretudo na reinserção dos(as) apenados(as) na comunidade.

“Bizarrus”

“Bizarrus” é realizado pelo Projeto “Reabilitando Através da Arte”, composto por atores e atrizes com restrição de liberdade, oriundos do Sistema Penal da Secretaria de Justiça de Rondônia, sendo organizado e dirigido pela Acuda. Tem apoio do Tribunal de Justiça e do Ministério Público daquele estado.

Segundo o presidente da ONG, Luís Marques, o espetáculo que rodou o País por nove capitais já foi apresentado até em evento na ONU, em Salvador. Atingiu aproximadamente 200 mil pessoas em centenas de apresentações, das quais mais de 50 mil estudantes, na perspectiva de inclusão e sensibilização sobre o tema. 

(Texto e fotos: Marcos Alexandre/Assessoria da Esjud)

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